As notícias de jornal mais recentes envolvendo a GNR remetem-nos muito mais para uma corporação saída de uma série estilo Monty Python do que para uma força capaz de garantir a ordem pública com o vigor que a lei obriga, mas também com o bom senso que a atividade policial exige.
A comédia começou com os 353 autos levantados recentemente por um batalhão de guardas no âmbito da imaginativa "Operação Parafuso". Os zelosos GNR visaram oficinas de reparação de automóveis em busca de faltas de comunicação de início de atividade, desatando a multar tudo e todos. Como? Com base numa legislação que só entrará em vigor no próximo dia 12 de julho... Ou seja, mais de seis centenas de homens e mulheres trabalharam para o boneco. Sendo crónica a falta de recursos - nomeadamente humanos - das polícias portuguesas, não deixa de ser preocupante que as chefias da guarda envolvam tantos meios numa ação inútil. Sem que ninguém seja responsabilizado.
Aparentemente para nada, conta-nos uma notícia deste fim de semana, estão também a laborar mais de mil guardas. Diz a imprensa que os agentes cumprem, desde há um mês, um horário, mas nada fazem. A bizarra situação tem igualmente uma explicação prosaica: extinguiram-se as centrais de comunicações onde os guardas operavam e, como a sua formação só lhes permite, aparentemente, manipular um rádio (mas não uma pistola), temos mil homens afastados das patrulhas por falta de formação adequada.
Se o ridículo matasse, estes militares bem poderiam ser transferidos para Viseu e prescindir das armas que não sabem usar. Ali, o incerne Comando Territorial decidiu levantar um auto a um casal de octogenários, ambos acamados, por terem em sua posse, há já 20 anos, milhafre-real por sinal ferido. Adeptos da lei cega, os militares até viram que a gaiola que alojou a ave protegida estava esburacada e que o milhafre só não bateu asas porque não pôde ou não quis. Nada disto interessou à GNR. O auto foi em frente e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas entrou em cena, aplicando uma multa de 20 mil euros ao casal cujo homem aufere uma reforma de 250 euros. A patética ação não encerra aqui. Ao invés de pegarem no animal e o transferirem para um centro de recuperação, os GNR retiraram-no da gaiola aberta e colocaram-no numa fechada. É agora guardado pela filha do casal de idosos. Ou seja, os guardas não se limitaram a aplicar a lei sem ter em conta o enquadramento de uma história com duas décadas. Eles demitiram-se da sua responsabilidade (a Guarda Republicana tem um Núcleo de Proteção Ambiental) e passaram-na para terceiros.
É caso para dizer que aquelas patrulhas da GNR que andam pelas aldeias isoladas (tantas vezes com jornalistas atrás para documentar o feito) a alertar os idosos para os perigos de dar confiança a estranhos poderiam muito bem passar a avisá-los sobre os riscos da... GNR. Assim era Monty Python por inteiro.
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