Centro dá asas à recuperação
Chegam com a asa partida ou com outras maleitas e saem a voar. Pelo menos é para isso que trabalha o Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Gerês que recebe cerca de 300 animais por ano.
Uma águia de asa redonda levou um tiro e ficou com 22 chumbos alojados no corpo e com cinco fracturas numa asa. Foi um dos animais que chegou recentemente ao Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG).
A águia foi encontrada por populares na freguesia de Fraião, concelho de Braga, e vai ficar no centro o resto da vida.
A maioria dos animais chega ferida pela acção humana, quer activa, quer passiva.
O veterinário do Centro de Recuperação, Nuno Santos, revela que metade é fruto do cativeiro ilegal que deixa os animais domesticados e impossíveis de libertar, mesmo que sobrevivam.
Entram para a lista dos irrecuperáveis e acabam por servir para a educação ambiental sendo encaminhados para outras instituições como o Parque Biológico de Gaia ou o jardim zoológico.
O mesmo acontece com as aves que não conseguem voltar a voar a 100 por cento.
Um dos ‘hóspedes’ mais antigos do Centro era uma águia que aí passou 12 anos e que acabou por ir para a Quinta de Stº Inácio, em Vila Nova de Gaia, para um projecto que vai tentar reproduzir esta espécie em cativeiro.
Noventa e cinco por cento dos animais que o Centro recebe são aves, a maioria de rapina.
Os restantes cinco por cento são mamíferos e, muito raramente, répteis, explica o veterinário Nuno Santos que, há dez anos, se dedica à recuperação de fauna selvagem.
Os animais chegam sobretudo pela mão do Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente (SEPNA) da GNR (GNR), mas também através de particulares e de outras áreas protegidas.
Nuno Santos sublinha que, nos dias de hoje, os animais chegam mais rapidamente, sobretudo pela acção do SEPNA e também por uma maior consciencialização.
Há alguns anos, quando uma espécie cinegética era atropelada era metida na mala do carro e levada. Actualmente, há cada vez pessoas que chamam ajuda e contribuem para salvar os animais, descreve o veterinário.
Metade dos animais vem de cativeiro ilegal
Em 2007, o Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do PNPG recebeu mais de 280 animais, número que este ano deve chegar aos 300, estima o veterinário, Nuno Santos.
Julho é o mês em que o Centro recebe mais ‘doentes’. É a altura em que os juvenis de aves saem do ninho para voar pela primeira vez e acabam por perder-se ou ficar feridos.
Já este mês de Setembro, têm chegado muitos juvenis de açores e gaviões que não se conseguiram adaptar.
Só num dos túneis de voo, há um grifo, uma cegonha, duas gaivotas (que estavam em cativeiro), corvos e duas gralhas, estas últimas também domesticadas.
As pessoas tentam domesticar águias, gralhas, gaivotas e outros animais selvagens.
Muitos juvenis são pilhados dos ninhos.
A outra grande causa que leva os animais ao Centro de Recuperação são os traumatismos provocados por tiros, atropelamentos, colisões com linhas eléctricas ou janelas, refere o veterinário.
As jaulas ao ar livre, estão ocupadas por águias, açores e duas raposas, mas ao Centro chegam espécies como javalis e ouriços-cacheiros.
Com a entrada de mais uma águia e um açor, o internamento ficou lotado.
“Se chega mais um animal já é preciso improvisar” afirma o veterinário.
A dieta base das aves de rapina é o frango. O Centro aproveita os restos de uma sala de desmancha.
As aves comem quatro vezes por semana.
Carinho pelos animais não é correspondido
O noitibó é uma ave difícil de manter em cativeiro. Por tratar-se de um insectívero que apanha os insectos em voo, é preciso alimentá-lo com uma seringa na fase clínica do tratamento, três vezes por dia.
A recuperação de animais selvagens exige empenho da equipa, composta pelo responsável do Centro, Henrique Carvalho, pelo veterinário, Nuno Santos e por dois tratadores.
Nuno Santos reconhece que “o carinho pelos animais não é correspondido”. De vez em quando, o veterinário lá leva para casa umas marcas de garra. “Ossos do ofício” para quem lida com animais selvagens.
Por outro lado, é preciso estar muito disponível, refere.
Quando são libertados os animais levam um número que os identifica. Foi o caso de uma águia de asa redonda que regressou ao Centro onde já tinha sido tratada há mais de uma dezena de anos. Foi libertada em 1997.
A águia foi encontrada por populares em Ponte da Barca, mas acabou por não resistir. Mesmo assim, ficou a saber-se que sobreviveu 11 anos depois de ter sido tratada e libertada.
Os animais são sempre libertados no local de onde vieram.
Se o local for desconhecido, são libertados fora do Parque Nacional da Peneda Gerês.
A pessoa que entregou o animal é, normalmente, convidada a assistir à libertação.
Este ano, a GNR trouxe um cuco que ficou ferido depois de embater numa jane-la, no concelho de Fafe.
Foi o proprietário de uma serração que o encontrou e entregou às autoridades.
No dia em que o cuco foi libertado, o proprietário da serração parou o trabalho para que todos assistissem, relata Nuno Santos.
Notícia obtida no site: Correio do Minho
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Data: 15 Setembro 2008
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