Caro Leote,
Agradeço imenso ter colocado o texto que está na base da sua opinião de que a questão juridica está resolvida.
Li com toda a atenção o texto e perdoar-me-à mas muitas dúvidas novas surgem depois da sua leitura. Diria mesmo que é aberta uma caixa de Pandora nalguns momentos do texo, noutros são utilizadas imprecisões grosseiras, salvo o devido respeito pelo autor, e noutros momentos são transmitidas convicções pessoais que, de ciêntifico têm muito pouco.
Correndo o risco de ser muito longo, não resisto a dizer que na primeira parte do texto Há uma grosseira confusão entre chamariz(Serinus serinus), canário selvagem (Serinus canária)e canário doméstico.
Assim, quando o autor afirma "o chamariz é uma ave silvestre com certeza, mas assim não é quando se trata das outras variedades de canários que se desenvolveram e só existem em cativeiro" não faz qualquer sentido esta afirmação porque a espécie que deu origem ao canário doméstico foi o canário selvagem (Serinus canária) e não o chamariz (Serinus serinus). Há pois clara confusão do autor.São espécies proximas mas distintas!
"É verdade que as variedades de canário, que hoje existem em cativeiro, devem a sua existência ao chamariz ". NÃO, É FALSO. Totalmente falso, apesar de alguns genes do chamariz poderem estar presentes no canário, a base genética provem do serinus canária e não do serinus serinus.
"Mas também o Canis familiaris (cão doméstico) deve a sua existência ao Canis lupus (lobo) e ainda assim os nossos fiéis amigos não são uma espécie selvagem"
Então esse raciocínio aplica-se às mutações da fauna europeia que também são variedades domésticas das espécies selvagens...
"o canário doméstico (Serinus canaria) é tudo menos uma ave indígena. Sim, evoluiu de uma ave indígena mas evoluiu. E parece-me difícil alguém considerar um canário frisado, por exemplo, como uma ave indígena."
O mesmo raciocínio é valido para um pintassilgo satiné, um cabeça branca, um verdelhão lutino etc...
"Serinus serinus e Serinus canaria, sim são todas espécies diferentes. " Uma vez mais há confusão: isto é a constatação do obvio. A questão é saber se Serinus canária na "forma" selvagem é ou não igual a serinus canária na "forma" doméstica (aliás, é curioso verificar que o autor, no final do texto parece corrigir este erro)
"Voltando ao Serinus serinus e ao Serinus canária, o que se passa é que são ESPÉCIES DIFERENTES logo a proibição levantada à primeira não se aplica à segunda."
Aqui o erro é por demais grosseiro, salvo o devido respeito; é que de facto são espécies distintas mas a proibição
aplica-se a ambas. O Serinus serinus é uma espécie que habita quase toda a Europa, o serinus canária é uma espécie selvagem que habita nalgumas ilhas em
estado selvagem.Não é permitido capturar serinus canária na Madeira e nos Açores!!!!
Ambas as espécies são selvagens e a confusão/dúvida surge pelo facto de o canário doméstico ser a "forma" doméstica de Serinus canária, NÂO de serinus serinus!!!
"Quanto ao facto dos biólogos mais teóricos para dizerem que são espécies diferentes quando no fundo elementos de uma espécie podem reproduzir-se com elementos da outra espécie (talvez seja essa a sua questão), devo lembrá-lo que também cavalos e burros (cada um do seu sexo é claro) se reproduzem e não são da mesma espécie. "
Aqui, não sei bem em que contexto surge a resposta mas o facto de duas espécies se poderem cruzar, obviamente não significa que sejam da mesma espécie. Já o facto de todos os descendentes serem férteis deixa mais dúvidas. A única espécie com a qual se cruza um canário doméstico tendo como resultados 100% de descendência fértil (de ambos os sexos - e isto é fundamental por razões biológicas que agora não vêm ao caso...)é com o canário selvagem. Com nenhuma outra espécie tal acontece!
"Enfim, canários domésticos não são indígenas. "
Conclusão pessoal do autor sem qualquer base ciêntifica (se ao menos tivesse dito que canários domésticos não são aves selvagens...
)
"Será que alguém consegue quantificar a percentagem de Serinus serinus existente no fundo genético do canário actual doméstico? Ou a percentagem de Serinus citrinella, ou Carduelis spinus ou carduelis carduelis e tantos outros que foram cruzados com o Serinus canaria ao longo dos tempos para originar o actual canário doméstico? "
Bem, relativamente a algumas das espécies referidas até se poderia dizer de forma categórica 0%. Mas, esta afirmação é mais notável por abrir a verdadeira caixa de Pandora: Então não é permitido deter um híbrido de chamariz e canária doméstica (segundo informações que me foram prestadas pelo ICN não é permitida a detênção de híbridos da fauna europeia, e até é compreensivel) mas é permitido deter um canário que tenha uma certapercentagem de genes do chamariz ou do lugre ou do pintassilgo (nomes comuns de algumas espécies citadas pelo autor)? Então a partir de que percentagem se está perante um canário? Quem establece esse critério?
"E digo isto porque o conceito de espécie actualmente mais utilizado diz o seguinte: uma espécie é uma unidade de uma ou mais populações que se podem cruzar em condições naturais partilhando o mesmo fundo genético, produzindo descendência fértil e estando isolada reprodutivamente de indivíduos de outras espécies."
Ok. O canário doméstico apenas produz a totalidade da descendência fértil com o canário selvagem (com o chamariz, por exemplo, apenas os machos são férteis, as fêmeas nem sequer chegam a pôr ovos!!!). Será que é um indício de são uma só e única espécie?!
"Ora o nosso canário doméstico (nas suas diversas variedades) não partilha o MESMO fundo genético, com nenhuma das aves selvagens" Muito discutivel, não reflecte mais do que a opinião do autor!
"porque já foram fixadas dezenas (senão mais) de mutações e foram inseridos outros tantos genes de espécies afins. Já para não falar
que a selecção artificial feita pelo Homem é perita em eliminar do fundo genético as variedades alélicas selvagens."
Então as mutações genéticas representam uma alteração da base genética e tal raciocínio deve aplicar-se a qualquer espécie da fauna europeia quando em mutação
" Para além disso, Serinus canaria não pode cruzar-se em condições NATURAIS com o canário doméstico muito simplesmente porque o canário doméstico não existe no ambiente NATURAL do Serinus canaria e este não existe NATURALMENTE no ambiente natural do canário doméstico que é o cativeiro. "
Exactamente o mesmo raciocíno é válido para aquelas mutações da fauna europeia que não existem na Natureza
"Sim, Serinus canaria tem 100% de fertilidade com o canário doméstico"
100% correcto.
"mas para isso é necessário isolar um macho de uma espécie com a fêmea da outra espécie. Se colocarmos os reprodutores num viveiro com aves de ambos os sexos e ambas as espécies, instintivamente os casais formam-se entre elementos da mesma espécie o que revela que, entre Serinus canária e canários domésticos, existe já um isolamento reprodutivo por motivos comportamentais."
Tremenda inverdade: Em primeiro lugar dúvido que a experiência tenha sido feita. Em segundo lugar há variadíssimos relatos que provam o contrario com outras espécies (Sobretudo verdelhões europeus e asiaticos e várias espécies de carduelis sul-americanos que se cruzam em viveiro mesmo na presença de individuos da sua espécie, mas também a relatos de outros exóticose até de indigenas!!!)
". Mas a lei também diz, como já foi referido nesta lista, que quem a aplica pode fazer a leitura da lei de acordo com o espírito do "
Lá está. interpretação teleológica e não meramente literal
Com os melhores cumprimentos e desculpas pela extensão do post
Miguel Isidoro